Amizade

"Nenhum caminho é longo demais quando um amigo nos acompanha."

Trilho Castrejo - Castro Laboreiro 19-10-2013









































































"Para os que questionam o meu silêncio, enquanto caminho, eu explico:

Eram nove da manhã quando três caminheiros chegam à vila de Castro Laboreiro com expectativas muito altas em relação aos que os esperava. A vila desperta muito lentamente, são poucas as pessoas que se avistam, não sabendo se pelo frio que se fazia sentir ou pela chuva que ameaçava cair. Um café para despertar, dois dedos de prosa com um residente e assim partiram os três caminheiros rumo ao desconhecido.
A serra estava envolvida com um manto de nevoeiro, mostrando-se por breves segundos para logo de seguida se resguardar como se de um jogo de sedução se tratasse. E o jogo foi cativando, os caminheiros iam progredindo entusiasmados com todo o mistério que aquele manto teimava em ocultar. Por vezes, ele os presenteava permitindo avistar umas fragas ali, uns cogumelos aqui e uns cavalos acolá.
A música era uma constante, graças às chuvas dos últimos dias os ribeiros corriam e cantavam a plenos pulmões, alguns estavam tão furiosos que resolveram alargar os seus horizontes e reclamar um pouco mais de terra, desafiando assim os caminheiros a alguns malabarismos que foram superados com a maior das mestrias.
Os caminhos vestiam lençóis de água e tapetes de cores quentes de um outono que já se instalou, ladeados por muros forrados com almofadas de verde musgo e árvores que se elevam aos céus, guardiãs do santuário que os olhos contemplam.
A chuva começou a cair como que desafiando a presença e passagem dos forasteiros mas ao perceber que estes pretendiam apenas desfrutar e contemplar toda aquela maravilha, abençoou-os e da mesma forma que surgiu misteriosamente partiu, permitindo que o sol aquecesse um pouco aquele dia de temperaturas amenas.
As aldeias, rústicas, feitas de muros e casas gastas, protegidas por cães robustos e não muito sociáveis, os caminheiros, cercados, temem e param sem oferecer qualquer tipo de resistência como que mostrando que vinham em missão de paz, os guardiões permitem-lhes a passagem mas sempre sob o aviso daquele ameaçador rosnar.
Continuando a sua jornada, os caminheiros sobem o trilho de pastores, no alto, a sentinela, o imponente bico de patelo que os mira e desafia, olhando para ele com espanto é palpável a sensação de quem espera que a qualquer momento se formem as asas e ele irrompa pelos céus, voando e exibindo-se para a sua plateia.
Ao longe avista-se o imponente Anamão, a seus pés o cruzeiro e um pequeno santuário aninhado à sombra de castanheiros, local ideal para os caminheiros descansarem e alimentarem o corpo, visto que a alma, essa já há muito que vinha sendo alimentada.
O tempo passa e é chegada a altura de prosseguir, voltando aos trilhos de pastores, dirigem-se para a aldeia (Seara), contornam esta por caminhos cercados de campos de cultivo e regadios. Aqui, encontram uma simpática velhinha que trajada de negro e munida de galochas os aconselha a não seguir o caminho uma vez que as últimas chuvas o haviam deixado em muito mau estado.
Os caminheiros riram e cheios de valentia seguiram a velhinha verificando de seguida que esta não exagerou mesmo nada, o caminho era uma mistura de água, terra e muita bosta, cada passo era um afundanço até aos tornozelos, a jovem caminheira na esperança de escapar a uma eventual queda agarrou-se à vegetação, constatando de seguida que pelas bolhas e ardor, a vegetação se tratava de urtigas.
Após muita risada dos caminheiros e da simpática velhinha e com os pés bem fertilizados, estes alcançaram terra firme e continuaram a sua aventura, passando por aldeias e pontes chegaram novamente a Castro Laboreiro, cansados é certo, mas muito satisfeitos com o que aquele dia lhes havia reservado.

A absorver todas as paisagens, cheiros, sons e sabores…"

Filipa Carvalho









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